CARTA DE SAUDADE - Antonio Augusto

Ana Lucia,
 
Tantos anos se passaram e ainda tenho saudades, muitas saudades! Dos momentos em que nossa intimidade revelava o melhor de nós, revelava a razão e o sentido do encontro, da vida, de tudo. 
 
Saudades dos seus beijos, do seu sorriso, do seu corpo, de te abraçar como se nunca fosse te deixar partir, dos movimentos e dos sons que só seu corpo sabe criar, uma mistura de sinfonia e pintura que me fazia espectador e participante. 
 
Saudades das músicas no seu ipod, ecléticas, contraditórias, abrangentes e inclusivas, como você dizia para justificar um pagode entre Bach e Adelle ou um sertanejo entre Tom Jobin e Lionel Ritchie.
Imagem de Michal Jarmoluk por Pixabay 

Saudades das manhãs de sábado, das tardes de domingo, dos momentos à mesa, no sofá, nas poltronas de cinema e nos bancos de aeroportos. 
 
Saudades de caminhar no parque de mãos dadas contigo e das longas conversas sobre tudo e sobre nada em especial, mas que preenchiam os vazios da minha vida e faziam o tempo e a dor passarem mais depressa.
 
Saudades das guerras de travesseiro, das suas gafes sobre história, das nossas histórias, de comemorar algumas vitórias e de ter seu ombro após cada tropeço, de sonhar com recomeços.
 
Saudades das pernas enroscadas sob o cobertor, das maratonas de séries de TV, de te ver todo dia, de pegar no seu pé, de te fazer cafuné, de te ver brava, de te ver caminhar pelo quarto sem roupa, sem vergonha, sem propósito e com segundas intenções.
 
Saudades das suas expressões de emoções profundas, do seu choro numa noite de lua naquela paisagem onde a presença de Deus se manifestava na natureza.
 
Saudades até de ter insônia e acordar no meio da noite e ficar olhando pra você ali, em paz, serena e minha.
 
Saudades de fazer planos, de te ver sonhando. Saudades até do seu jeito estabanado, das surpresas anunciadas, das descobertas que juntos fazíamos, das pequenas aventuras e até das desventuras que enfrentamos.
 
É muita saudade e ela vai se cristalizando, criando imagens tão reais que me acompanham todos os dias, trazendo algum conforto por tudo que vi e vivi, mas que passou e é parte desse mosaico que é a minha vida.
 
Antonio Augusto

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